Liádan veio rapidamente e, enquanto eu me afastava, cravou os dentes no pescoço magro do rapaz.
– Para, sua imunda! – guinchou com a voz estridente – Está doendo! Ai meu Deus! Alguém me ajude!
O bostinha se debateu, gritou, mas nada adiantou.
– Delícia! – falou ela, com sangue escorrendo pela boca.
– Você tem que aprender a beber sem se sujar toda! – falei com um sorriso. – Isso chama muita atenção!
Ela veio e me beijou, Sua boca estava deliciosa, quente.
Bebi o pouco restante. Não me saciou completamente, mas serviu para esquentar o corpo. Deixamos o cadáver no canto e voltamos para a procissão. Liádan estava feliz como nunca.
– Que calor gostoso subindo pela espinha! – falou eufórica.
– É a nova vida em suas veias! – respondi.
– Todos os sangues são tão bons assim?
– Não – falei. – Sangue de velhos não me deixa tão animado. O de pessoas doentes mantém o estômago quieto por pouco tempo. O de bêbados costuma me deixar feliz! Mas, o mais especial de todos é o de pessoas com cabelos vermelhos!
– Então a sua amizade de todas as noites tinha um interesse sórdido! – riu. – Mas imaginei terminar na sua cama e não sob os seus dentes!
Passeamos por um tempo, olhamos as pessoas e tentamos descobrir o gosto do sangue delas.
– Vê aquele gordo suado como um javali? – ela disse apontando discretamente – O sangue dele deve ter gosto de banha.
– Vamos lá provar? – falei.
– Já estou cheia por hoje! E quero daqui a mil anos caber nos meus vestidos!
– Teremos então que comprar muita seda! – falei, e corri.
– Volte aqui, seu besta! – disse ela, pegando-me pela manga.
Desde o meu renascimento nada mudou em mim. Meus cabelos continuam negros como a noite e sinto o vigor da juventude. Com Liádan não seria diferente. Seria sempre bela. Seria minha pela eternidade. Eu era feliz.
– As cruzes deviam ter o poder de espantar o mal, de nos ferir. – Ela apontou para uma grande cruz dourada.
– E podem! – respondi, sério. – Basta que nos acertem bem no meio da cabeça!
– Idiota!
Voltamos saciados e felizes para o nosso lar.
– Você gostou de acariciar aquele rapaz? – sussurrou no meu ouvido. – Vi um brilho diferente nos seus olhos.
– Quis deixar a carne mais macia para você – desconversei.
– Ele era bonito, parecia uma dama! – disse ela, com malícia.
– Mas, tinha algo no meio das pernas. E isso não me agrada – respondi secamente.
– Sei…
– Ora, vai dormir – falei virando de costas.
Dormimos tranquilos e eu sonhei com belos pescoços cheios de veias saltadas.