Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre que só tem dinheiro – Pedro de Lara.
Sabe, acho que hoje a gente vive numa sociedade tão mecânica, tão padronizada, com tantas regras impostas, que somente os números importam: quantos views, quantas unidades produzidas, quantos livros vendidos… Robotizaram o ser humano.
Muitas vezes a alma de cada indivíduo (e aqui não falo do conceito religioso de alma) é deixada de lado, em segundo plano. Ter tem mais peso do que ser.
Nesses últimos meses tive três experiências que mudaram a minha percepção da vida e como eu interajo com o mundo e com as pessoas. E se me permite, gostaria de compartilhá-las com você.
Um soco no estômago
Conheci uma menininha linda, carinhosa e muito educada. Não me lembro ao certo a sua idade – seis ou sete anos – mas, infelizmente, há uma certeza: ela nunca vai chegar a minha (33 anos). Nem perto disso, aliás.
Ela possui uma doença degenerativa cujo sobrevivente mais “velho” não passou dos 20 anos. Apesar de ter a cognição intacta, o corpo não funciona direito e tem várias partes atrofiadas. Desculpe a descrição falha e superficial, mas não entendo muito dessa área médica.
Quando eu a conheci, estava numa fase pilhada: nervoso com o trabalho, irritadiço, cansado e reclamão. Tudo era culpa dos outros, das circunstâncias, de fatores externos. Passei apenas algumas horas com ela e esse tempo foi mais valioso do que tudo que já li, cursei ou debati.
Ela tinha uma energia maravilhosa e bonita, parecia que sequer tinha uma doença tão grave: era feliz e agradecida com as coisas mais simples.
Um soco na boca do meu estômago.
Nada no mundo está errado, tudo depende de como eu reajo àquilo que chega até mim: as coisas boas e ruins.
Confesso que, ao voltar para casa e pensar nesse feliz encontro, chorei muito: como eu podia me preocupar tanto com coisas tão pequenas? Por que eu me irritava tanto com coisas tão banais?
E o mais impactante nessa minha análise: por que eu dava tanta importância para aquilo que não valia a pena?
É claro que não mudei da noite para o dia, é claro que ainda erro muito, mas sempre que começo a me descontrolar, tento respirar e pensar: eu tenho uma vida muito boa para perder tempo com reclamações. Eu tenho saúde e vontade para realizar e mudar o jogo se for preciso.
Numa tarde chuvosa
– Eduardo, Eduardo! – A Estela me chamou no portão.
Desci correndo as escadas e, debaixo da maior chuva, vejo uma caixa com seis cãezinhos tremendo de frio.
– Eduardo, algum puto abandonou esses cachorrinhos aqui no portão…
Trouxemos os bichinhos para dentro, que imediatamente foram recebidos por cheiradas e lambidas dos meus cães. Só a Piquena ficou meio receosa.
Depois de passar pela veterinária e constatar que tudo estava bem, iniciamos o processo de doação. Enquanto isso, a Hanna se tornou mãe da galerinha, cuidando, corrigindo, ensinando as regras de boa conduta canina, rsrsrsrs.
E aqui vem a segunda experiência maravilhosa: ainda há muita bondade e solidariedade nesse mundo.
Confesso que estava contaminado pelas péssimas notícias e pelas barbaridades que vomitam diariamente nos meios de comunicação. Estava descrente com a humanidade.
Mas ao ver tanta gente engajada – muitos eu sequer conhecia – em ajudar a encontrar lares para os filhotes, gente que me contatava para saber mais, para oferecer apoio, entendi que: o mal faz mais barulho, mas o bem ainda existe.
Dos seis, doamos cinco e inserimos mais um membro na nossa matilha, a Srta. Panqueca – ou como diz meu afilhado Gabriel, Panqueca Mel.
De quem é o sonho que você vive?
Por último, esse não foi um momento específico, mas sim a soma de vários. Em 2015 participei de muitos eventos do livro – obrigado por tudo Erick Sama! – e tive contato com muitas pessoas.
Além de autografar as minhas obras, que sempre é um momento maravilhoso, pude conversar com várias pessoas (algumas se tornaram amigas e amigos!). Pude compartilhar experiências e sentir como as minhas palavras impactavam.
As minhas histórias, os meus personagens e seus dramas se transformaram em experiências para vários leitores! Cada um com suas verdades, interpretações, sentimentos e sensações, ou seja, aquilo que estava transcrito se tornou vivo em cada mente e em cada coração.
Poesia pura e algo impagável.
Para um gordinho inseguro e tímido que vivia os sonhos de outras pessoas, construindo coisas de valor para quem nem sempre merecia, essa é uma grande vitória.
Não desmereço o passado, longe disso: tudo o que vivi foi essencial para me ajudar a construir a minha personalidade e me trazer sabedoria (hoje entendo que o “só sei que nada sei” é o conceito mais perfeito e real da nossa existência).
Termino dizendo algo que acredito muito: essa vida só tenho essa, portanto, quero passar por essa existência com valor e dignidade, proporcionando boas experiências para outras pessoas.
Tal como a menininha iluminada que tanto me ensinou: apenas sendo ela mesma.
Vamos juntos nessa?
Até mais.