Começou a publicar literatura em 2006, com uma novela policial chamada Desumano – Editora Brasiliense. No ano seguinte, foi para a literatura independente: publicou o romance policial Operação P-2 pelo selo Os Viralata. Em 2010, publicou Segunda mão, também de forma independente, com patrocínio da Secretaria da Cultura de São Paulo, pelo ProAC. Junto dele editou dois livros de contos (cada um é um conto policial de cerca de 40-50 páginas) e aproveitou para fazer uma segunda edição do Operação P-2. No finalzinho de 2010 teve o projeto de A última expedição selecionado no Programa Petrobras Cultural; o contrato foi assinado na metade de 2011, quando viajou para a Bolívia e o livro ficou pronto na metade de 2012, depois de muito sofrimento, lágrimas e desespero, palavras da própria Olivia.
Não sabe quando nem como arrumava tempo para escrever, considerando que de 2005 a 2009 cursava a faculdade de Letras, na USP, a partir de 2007 trabalhou como corretora de redações num colégio particular e em 2011 acumulou também o cargo de editora de comunicações e professora (por um semestre, ainda, lecionou em Sorocaba) UFA! Parou de corrigir redações na metade de 2012, mas continuou com os outros dois cargos. Em junho largou tudo e agora, em agosto, vai embora de São Paulo, para passar um tempo viajando e para procurar uma nova vida.
Foi aos poucos abandonando o policial mais clássico, com polícia e inquérito e Ministério Público e bandidos presos no final. Suas novas ideias envolvem uma busca, uma investigação, muitas vezes até mesmo tiroteios e correria, mas de um ponto de vista “amador”.
Assim também posso me aproximar do que me é mais familiar e me afastar desse terreno inóspito e terrivelmente desanimador que é a polícia no Brasil. – diz.
Site: http://oliviamaia.net/
1) Para escrever “A última expedição”, você foi para a Bolívia com um bloco de notas ou confiou na sua memória para se lembrar dos lugares, costumes etc.?
Olívia Maia. Fui para a Bolívia principalmente com uma câmera fotográfica para registrar as paisagens, os cenários. Eu tinha um caderno de anotações, mas a verdade é que anotei pouco. Lembro-me de ter anotado mais no começo, tentando registrar a sensação de pequenez diante da imensidão que era o altiplano (pensar que encontrar um médico desaparecido por ali seria tarefa praticamente impossível). Lembro também de anotar alguma coisa sobre a primeira noite em Santa Cruz de la Sierra e o vento batendo com violência na janela enquanto a rua ficava em completo silêncio.
Mas a verdade é que depois fui deixando a memória absorver as coisas da forma como vinham. Acho que fiz muitas anotações e criei diversas formulações na minha cabeça: o frio na borda do deserto de sal, o vento gelado, os cheiros, o estranhamento da língua. Até porque nem sempre havia tempo para parar e anotar, e eu ainda havia prometido escrever um diário de viagem no meu blog, o que acabava ocupando meu tempo antes de dormir (digitar naquele celular sem vergonha era um troço bem difícil). O que fiz mesmo foi tirar muitas fotos, para lembrar depois dos detalhes. Gosto de tirar fotos e gosto de descrever a partir de fotos pela possibilidade de precisão que isso proporciona.
Já faz algum tempo que prefiro anotar tudo na minha cabeça. Não por confiar na minha memória (longe disso), mas por acreditar que as boas ideias são aquelas que ficam. Tem funcionado, acho.
Eduardo Kasse. Também gosto de “sentir” os lugares sem focar tanto em descrições e detalhamentos durante as viagens, acho que, como experiência, deixar o cérebro livre, sem a preocupação com relatos e fatos nos faz absorver mais do lugar e das pessoas. Depois, se preciso, consulto a maravilhosa internet para pegar nomes que fugiram, distâncias etc.
As fotos realmente são ótimas para ajudar avivar a memória, aliás, a tecnologia é um ótimo complemento. Mas deve ser apenas isso, um apoio, senão nos alienamos nela e deixamos de perceber o que há de interessante em cada local.
2) Aliás, como foi o processo: você viajou, viu potencial e resolveu escrever tendo a Bolívia como cenário ou já tinha ideia de escrever e foi para lá buscando uma “imersão”?
OM. A ideia da história veio antes da viagem, e a viagem (e a escrita) só veio porque ganhei uma bolsa da Petrobras para escrever o livro, o que me permitiu fazer essa pesquisa de campo. Era uma ideia que estava guardada fazia um tempo. Resolvi mandar o projeto para o Programa Petrobras Cultural porque pensei que só escreveria o livro se pudesse conhecer a Bolívia. Fui selecionada e aí não tive mais escapatória.
Antes disso, já havia conversado um tanto com um amigo formado em Geologia para entender como funcionava o trabalho feito pelo protagonista (antes de a carreira dele ir pelo buraco); também falei com um casal de amigos que havia viajado à Bolívia e feito um percurso igual ao que eu faria depois. Foram eles na verdade que sugeriram aquele caminho, e me disseram que sim, eu encontraria os cenários que estava procurando, como as vilas abandonadas.
Então fui à Bolívia para conhecer o cenário do livro, mas também para encontrar a narrativa, que ainda era um só um esboço. Eu sabia só o que havia acontecido antes para que começasse a história, mas não fazia ideia do que viria depois.
EK. Isso é muito interessante. Ainda pretendo fazer umas viagens para os meus outros livros e já comecei o planejamento. Só espero que eu consiga encaixar as peças, pois a minha carreira exige muito de mim e tem sido bem difícil conseguir passar muitos dias “offline”.
3) E por que Bolívia?
OM. Difícil responder sem desvendar alguns mistérios do livro. Posso dizer que foi mais ou menos arbitrário. Eu queria que fosse um país próximo. Confesso que minha primeira ideia foi Colômbia. Mas depois me pareceu que seria um pouco manjado, e escolhi a Bolívia. E ficou sendo Bolívia.
4) Você pretende fazer mais histórias desse tipo, depois de um belo mochilão?
OM. Por enquanto não tenho nada muito mirabolante planejado. Há um romance que se passa quase todo num município do Ceará (para onde estou indo agora), e outro que deve se passar em alguma cidade brasileira que ainda não sei qual é. Tenho outras três ideias de romances que devem se passar em São Paulo mesmo. Mas estou saindo de São Paulo, e não pretendo voltar tão cedo. As ideias vão nascendo pelo caminho. Quem sabe não encontro o Estevão por aí e resolvo que é hora de ele se meter em mais uma encrenca?
EK. A nossa vida pode ser tão dinâmica quanto a nossa arte, ou o contrário! E entendo que, muitas vezes, fazemos algumas definições que nunca saem do papel ou da nossa cabeça. E acho que esse movimento pode enriquecer muito tanto a vida quanto a arte, pois saímos da monotonia. O importante é tentarmos não nos perder nos diversos caminhos que se abrem. Senão, apenas começamos, mas nunca finalizamos nada.
Enfim, esse foi o nosso bate-papo! Espero que tenha gostado! Mas, antes de fechar a conta, a Olivia respondeu a mais duas perguntas:
5) O que podemos esperar de Olivia Maia para esse ano?
Tirei os próximos meses para viajar, escrever, ler, desenhar. Começo em Fortaleza e devo terminar, daqui mais ou menos um ano e meio, na Patagônia (pelo menos é esse o plano inicial). Vou relatar essas andanças no blog de viagem que criei com meu namorado: http://autonautas.net
Estou com dois livros começados: um que se passa no Ceará e envolve a copa do mundo, uma moça da área do marketing, um goleiro em crise e um zagueiro com lapsos de memória; o outro é o segundo romance (o primeiro ainda não foi publicado) de uma dupla de detetives particulares que investigam principalmente casos banais de adultério, mas vez ou outra se desviam e acabam se metendo no que não devem.
Além disso, meus livros anteriores (dois romances e dois contos policiais), publicados de forma independente, logo estarão disponíveis como e-books da Editora Draco.
6) E para terminar, para você escrever é:
A única coisa que eu sei fazer.