Valorizo demais os escritores com identidade, que escrevem segundo as suas convicções, verdades e percepções da realidade – ou mesmo da irrealidade. Gosto de sentir a motivação em cada frase, as ideias sendo reveladas com esmero e, principalmente, as ambientações e os personagens bem trabalhados.
Para mim, o valor de um texto está nisso: no tesão com que ele foi criado.
Eu trabalho dessa forma. E não consigo fazer diferente. Se não estou motivado, salivando para transcrever o que se passa na minha cabeça, o texto não fica bom. Seja um artigo ou uma história fantástica.
Agora voltemos ao tema principal desse post: a correta criação do perfil de cada personagem.
– Papai… – Falou Edred – Visita do mar! Eu achei ele. Dormindo, achei! Ele é engraçado. Cai, cai – se jogou no chão me imitando. – E cheira como os peixes. Sim… Será ele peixe, papai? A gente assa ele. Pode? Come com vagens e repolho… E depois a gente peida bastante!
O trecho acima é uma fala de um dos personagens do O Andarilho das Sombras, um garoto abobalhado, mas muito vivo e que sabe se virar bem no dia a dia.
– Boatos, vamos tratar tudo como boatos – respondeu o abade. – É o que podemos fazer no momento. Vamos tentar amenizar os fatos. Devemos ser duros para mantermos o controle. Devemos ser mais rígidos na disciplina e, se precisar, ameaçaremos com a excomunhão todos aqueles que se rebelarem.
Essa fala faz parte do livro Deuses Esquecidos, e foi proferida por um abade.
Há claramente uma diferença de estilos entre os personagens. E é assim que deve ser!
Edred, filho de um redeiro, analfabeto, simplório e meio “doido” das ideias. O abade Nicola, responsável por um mosteiro, letrado e culto. Essa diferenciação deve ser clara, tanto na formação das frases, quanto nas ideias. Os leitores precisam perceber e, acima de tudo, sentir as particularidades do indivíduo que está em foco.
Cada personagem tem suas vivências e experiências. Cada um está em um “ambiente” diferente, mesmo que compartilhem os mesmos locais físicos (vila, castelo, igreja etc.). E trabalhar corretamente os perfis e as identidades sempre traz resultados positivos.
Análises, estudos, planejamento e estratégias não são conceitos apenas do mundo dos negócios. São artifícios e métricas essenciais para o desenvolvimento da população das nossas histórias, desde os protagonistas até os coadjuvantes. Assim “criamos” deuses, imortais ou cães, rsrs.
Uma história, independente do tema, precisa de verdade, de estilo e de vida. Os leitores devem caminhar conosco pelas linhas, parágrafos e capítulos, liberando sentimentos e emoções. Devem ser nossos cúmplices ou nossos algozes.
O que escrevemos precisa impactar, de um jeito ou de outro.
E os melhores porta-vozes para isso são os nossos personagens! Concorda?
Vamos juntos nessa!
Até mais!