Sempre ouvi que para um país ir pra frente, era preciso fazer a economia girar, que dinheiro parado estagna e perde o valor.
Nunca liguei para esses economiquês de burguês safado, mas também nunca fui comunista: sempre frequentei bares e puteiros pagando certinho – ainda mais depois de umas sovas que levei na mocidade.
Aprendi que não se consegue fugir de um leão-de-chácara, mesmo que o figura pese duzentos quilos e mal caiba no terno. Life is a bitch!
Passei a minha vida adúltera bebendo e comendo do bom e do melhor, ouvindo juras de amor e elogios ao meu membro tão verdadeiros quanto o uísque 18 anos com gosto de sabão que eu consumia.
Mas veio a pandemia e a esbórnia acabou. Nunca tive medo de gonorreia, sífilis, de pé de couve no cu, mas não sei o porquê esse coronga me faz cagar nas calças. Não só eu, afinal, olha o tanto de papel higiênico que a galera comprou!
Tô preso em casa.
Não aguento mais pornô fake.
Não aguento mais toque frio dos lenços umedecidos, ou áspero da cortina de chenille.
Não aguento mais espiar a vizinha do outro prédio. Nem o vizinho. Nem o pobre cachorro pug que tenta se aliviar em uma almofada de cetim que lhe escorrega das patinhas tortas. Antes da gozada, o bicho já desmaiou, hiperventilando, exausto.
Não aguento mais sentar em cima da mão para fazê-la dormir, simulando a diversão terceirizada. Ele sabe, ele já conhece os meus calos. E o meu cheiro de mentol devido ao “Doutorzinho” que virou meu creme hidratante nos últimos tempos.
Tô velho.
Velho, meia bomba e preso em casa.
Tão pirado que voltei a assistir telejornais.
“Dois mil mortos”.
“Ele não respondeu aos e-mails”.
“Morreu…”
Ah, sifudê!
Mas uma notícia me chamou a atenção. Uma economista, uma coroa delicinha estava falando sobre a importância de capitalizar, de fazer a grana girar. Aquela voz rouca de tanto sugar o cigarro mexeu comigo. E como nunca havia feito, tirei-o para fora e comecei a manuseá-lo ligeiro, mordiscando o lábio ressecado (acabou a manteiga de cacau e eu tô com preguiça de sair), com um sorriso escorrido no canto da boca.
Em um jogo virtual de troca-troca, comecei a fazer PIX (ou o plural seria PIXIES, como a banda?) para mim mesmo. Os únicos 69 reais que tinha na conta iam para lá e para cá, enchendo a tela rachada e opaca do meu smartphone de avisos, lindos, como as moedinhas ilusórias de um caça-níquel.
O banco me bloqueou. E cessou com o meu orgasmo fintech. Partiu ao meio o meu coração e a minha ouroboros classe média.
Crônica inspirada por esse post do grande escritor Santiago Nazarian.