Uma paixão forte será bem-sucedida, pois o desejo do objetivo indicará os meios de alcançá-la. – William Hazlitt
Outro dia, ao andar com os cães, me deparei com uma cena cotidiana, rotineira, que até mesmo passaria despercebida em outros momentos.
Um senhorzinho de cabelos brancos estava sentado num banquinho pintando o portão de madeira da sua casa. Primeiro ele passou o pincel com o verniz, olhou, pegou um pano, embebeu no thinner, retirou o verniz de onde acabara de passar, pegou uma lixa passou na madeira.
Continuei a caminhada. Cerca de 1h30 depois, retornei pelo local e vi que o velhinho tinha envernizado uma pequena área. Uns cinco ou seis palmos quadrados apenas. E o portão era grande, tinha pelo menos quatro metros de largura por uns dois de altura.
Não sei bem o porquê, mas parei para papear com o senhor.
– Portãozão, né?
– Sim. Fiz com o meu pai há quarenta anos. É de peroba, madeira que nem vende mais.
– Que legal! Deve dar um trabalhão lixar e envernizar tudo isso.
– Dá não, fio! É um prazer, sabe? Ver algo que a gente fez quando moço ainda de pé, sem ter apodrecido, ainda protegendo a nossa casa.
– Isso é verdade.
– E outra: se a gente tem cuidado, faz tudo direito e preenche cada rachadurinha, a madeira vai durar muito tempo. Eu tô véio, fio, mas meus filhos vão ter um portão bão depois de eu morrê.
O senhorzinho riu e eu fiquei um tempo com ele, enquanto o Minduin e a Piquena descansavam na sombra. Conversamos enquanto ele preenchia cuidadosamente cada ranhura, cada nó da madeira. Ele poderia ter usado uma máquina, um rolo, mas não, estava lá, sentado com o seu pequeno pincel que não deixava nenhum detalhe escapar.
Voltei para casa, abri o portãozinho de madeira que meu pai fez para deixar os cães guardados enquanto eu limpava o quintal.
Um portão de correr, muito bem feito, bem pintado de marrom e com as rodinhas perfeitamente alinhadas ao piso.
Feito com capricho e carinho, sabe?
Então, enquanto eu esfregava o chão, sorri. É por isso que eu escrevo!
As palavras, os artigos, os contos, os livros são os meus portões. Todos construídos com muito carinho, pensando em sempre oferecer o melhor aos meus leitores, com a minha identidade e alma.
Tal como o senhorzinho e o meu pai, também entendi que, o que eu produzir hoje deve ser muito bem-feito a ponto de durar até o amanhã – não sei como vai ser o futuro, mas me esforço para não criar nada perecível.
A única diferença dos portões de madeira e os das palavras é que no segundo caso, sempre quero que todos possam entrar – sem bater mesmo – e desfrutar de bons momentos.
Vamos juntos nessa?
Muito obrigado e até breve!