Não vou falar do mercado, tampouco de outros profissionais, pois cada um tem o direito de seguir o que acredita e ter a postura que acha mais adequada.
Eu vou contar um pouco sobre o que acredito e tenho certeza que você vai se identificar.
Permita-me começar contando um trechinho da minha infância:
Meus pais sempre trabalharam muito. Um mecânico e uma professora que batalharam duro para poder criar os filhos com dignidade. Por esse motivo, passei grande parte da minha infância na casa da minha avó materna.
E, por isso, muito da minha criação e dos meus valores devo a eles.
Meu avô José era barbeiro – barbeiro mesmo, daqueles tradicionais, que cortava somente cabelos de homens –, e tinha o seu salão debaixo da sua casa.
Eu estudava no período da manhã, chegava na casa dos avós lá pelo 12h30, almoçava, fazia as lições e tinha o resto da tarde livre até a minha mãe vir me buscar.
Passava a maior parte do tempo lá no salão, sentado junto aos fregueses – naquele tempo ninguém falava “clientes” – ouvindo as conversas, os causos, papeando e contando lorotas infantis.
Via o meu avô trabalhar, vestido em um impecável jaleco branco sobre a roupa social, cabelo sem um fio fora do lugar, brilhoso por causa do laquê. Na sua bancada, cada tesoura, cada pente, cada lâmina milimetricamente no lugar.
Naquela época, nunca me toquei, mas hoje me lembro que ele demorava bastante em cada cabelo, cada barba, pois só considerava pronto o trabalho quando o corte estava perfeito. Lembro-me do monte de gente sentada nas cadeiras, esperando pacientemente a sua vez.
Senhores que cortavam com ele há mais de 30 anos, quando o seu salão era na Ponte Pequena (atual Armênia), pais com filhos, jovens.
Ele começava cedo, lá pelas 8h30 e ia até o começo da noite, até o último cliente. De segunda a sábado. Mesmo depois de aposentado continuou na labuta até morrer, literalmente.
Lembro-me que no seu velório, a rua ficou tomada de gente e durante o enterro havia muitas pessoas querendo carregar o seu caixão. Ele fez a diferença, como profissional e como pessoa.
Ufa, deixa eu respirar um pouco aqui. Essas lembranças são lindas, mas não há como conter a emoção.
Por que eu contei essa história?
Bem, como eu disse, muitos dos meus valores eu aprendi com o meu avô. E um dos principais foi o respeito àqueles que acreditam no nosso trabalho.
Quando estou escrevendo meus livros, ou criando um projeto de conteúdo, sempre me recordo do meu avô José cortando os cabelos: cada tesourada cuidadosa e precisa. A navalha percorrendo a pele até deixá-la lisinha.
Eu acredito que todos aqueles que fazem parte dos meus círculos merecem isso: leitores, clientes, parceiros, amigos.
E merecem que eu continue aprendendo, evoluindo, tentando me superar. Merecem que eu tente ao máximo fazer a diferença.
Nunca vi o meu avô José reclamar de tendinite, de dor nas costas ou de receber pouco a cada corte – aliás, ele foi uma das pessoas mais prósperas que conheci –, ele tornava o seu salão, o seu reino, um ambiente agradável, cheio de risadas, piadas e companheirismo.
Meus avós paternos, os japoneses, também eram assim: dedicados, pacientes e éticos, mesmo sem saber o que essa palavra significava. E essas posturas continuaram nos meus pais. E, pelos artifícios do destino, juntei-me com a Estela, tão “samurai” quanto todos esses, rsrsrs.
Então, com todos esses bons exemplos, eu preciso seguir esse caminho virtuoso, que não é fácil, muitas vezes sequer é reconhecido, mas é aquele que o meu espírito e o meu coração desejam trilhar.
Obrigado por ter me acompanhado até aqui e sei que vamos trilhar juntos essa jornada de valor.
Até mais!