Portões cada vez mais altos.
Lanças cada vez mais pontiagudas.
Muros com ouriços, cercas elétricas e cacos de vidros.
Pessoas amedrontadas atendem os interfones, olham pelas frestas das janelas, correm para se esconder ao mínimo ruído.
Os carros saem cantando pneus das garagens, serralheiros soldam uma porta de ferro a mais.
Crianças brincam em varandas 1x1m enquanto imaginam poder correr descalças pelas praças.
Estamos encarcerados em poucos metros quadrados, cada vez mais caros, cada vez mais opressores, janelas gradeadas grudadas com janelas gradeadas, rostos anônimos de vizinhos que não se conhecem.
Sirenes tocam lá na esquina. Algum assalto? Algum sequestro? Não, é o SAMU. Alguém infartou. Ufa, menos mal!
A que ponto chegamos?
Como podemos deixar a vida ruir e achar que é normal?
Acordamos com medo, vivemos com medo, dormimos com medo. E, infelizmente, esse medo está cada vez mais real e impune. Arrastões, ônibus queimados, tiros para o alto…
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Eu paro por aqui, com medo de qual pode ser o fim dessa pequena e frágil história.