Eduardo Kasse, muito prazer!
Escritor e roteirista

Uma conversa com Ana Cristina Rodrigues

Entre edições, criação literária e gatos, tivemos um ótimo papo. E bomba: ela disse que vai escrever um romance.

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ana_cristina_rodrigues
Nem só ideias surgem na cabeça…

Ana Cristina Rodrigues é historiadora, escritora, editora, tradutora, funcionária pública e mãe, não necessariamente nessa ordem. Não tem o menor jeito para plantas, sendo capaz de matar um cacto de sede em semanas, por isso prefere gatos – eles miam quando estão com sede. Tem participação em várias coletâneas no Brasil e no exterior, organiza outras tantas, seleciona e edita o material da Llyr, trabalha na Biblioteca Nacional e jura que um dia escreverá um romance.

Site: http://talkativebookworm.wordpress.com/

1) Você, sendo uma conhecida editora de livros, é muito exigente com os seu próprios escritos? Como é a sua visão editora/autora na hora de produzir?

Ana Cristina Rodrigues. Antes de tudo, preciso dizer que não sou conhecida, nem como editora nem como autora. Estou naquela fase de ilustre desconhecimento ainda.

Mas essa dualidade de editora/escritora me fez crescer muito em termos qualitativos. Procuro não errar muito, minimizar o trabalho do editor que vai mexer no meu texto e valorizar o investimento dele na minha obra.

Porque ser editora me fez descobrir uma coisa muito séria: autor é um bicho MUITO enjoado. Acha que sabe de tudo, desde escrever até estratégias de marketing, e que o editor tem obrigação de fazer tudo do jeito dele. É muito fácil esquecer, em uma relação profissional entre editora e autor, que o dinheiro não sai do bolso do escritor.

Ou seja, depois de umas três experiências péssimas com escritores que se acham importantes demais, entendi que a vida de um editor é muito, muito dura. E que parte dessa dureza vem da egomania de muitos escritores.

Meu ego deu uma boa murchada – mas ainda existe, né, afinal sou escritora – e, se eu já não reclamava antes de interferência editorial nos meus textos, agora que nem ligo mesmo.

Eduardo Kasse. Realmente é importante a profissionalização desse mercado. E isso só vai acontecer quando todas as partes envolvidas trabalharem em sintonia e sinergia, sempre pensando em um produto de qualidade.

Ainda vejo muitas relações com base na desconfiança, nos ganhos de um único lado e mesmo várias intrigas entre pessoas que deveriam andar de mãos dadas. Mas enfim, isso não é exclusividade da literatura. Onde há gente pode haver rusgas. O importante é cada profissional deixar a visão umbilical de lado e buscar a gestão ganha-ganha das suas carreiras.

2) O seu nome é uma constante em muitas coletâneas. Como você administra a sua carreira para conseguir manter a sua relevância mesmo com muitos trabalhos. Você diz muitos “nãos” ou costuma aceitar a maioria dos convites?

ACR. Teve uma época em que eu aceitava tudo e ainda tentava participar de algumas outras com submissões abertas. Aí, comecei a não ter tempo para tentar as abertas, só os convites. Agora estou na fase do ‘não’ até para convites, infelizmente, até porque vi que estava deixando alguns furos em relação a prazos e sei o quanto isso atrapalha.

Eu procuro sempre estar em projetos que sejam interessantes, ou seja, quero participar de coletâneas que eu, como leitora, fique ansiosa para conhecer o que saiu daquele tema. Foi assim com ‘Cursed City’ e ‘Quando o saci encontra os mestres de terror’, da Estronho, a proposta me intrigava muito como leitora. Gosto também de aceitar desafios e escrever para projetos fora da minha zona de conforto. Foi assim que me descobri autora de Fantasia Urbana (‘Cidades Indizíveis’/Llyr e ‘Fantasias Urbanas’/Draco) e de Fantasia Erótica (‘Erótica Fantástica’/Draco). E claro que tem aqueles convites irrecusáveis, como participar da coletânea de aniversário da Draco ou de compartilhar um espaço literário com George R. R. Martin e Fritz Leiber (‘Crônicas de Espada e Magia’/Argonautas e Arte & Letra).

Em resumo, tento participar do que acho que vai acrescentar a mim e a literatura como um todo. E quero apresentar sempre uma faceta diferente, surpreender o público leitor – positivamente, claro.

EK. Respeitar prazos e acordos é importante, assim como escrever sobre o que lhe dá tesão. Vejo que muitos autores atiram para todos os lados, mas isso gera uma ruptura na identidade. Lógico: temos a capacidade de sermos plurais, entretanto, quando não “vivemos” aquilo que escrevemos, o texto pode soar falso e superficial.

Melhor do que ser publicado é produzir com gosto e felicidade.

3) Nos seus textos, sempre há muitos passeios entre os clássicos da literatura, criando influências interessantes na história. Como você planeja esses crossovers?

ACR. Se eu disser que não é nada assim muito planejado, que deixo fluir e vou captando essas referências conforme a necessidade da história e da trama pega mal, né? Mas é a verdade, melhor não pagar de autora cult e fingir uma explicação qualquer que possa ser desmascarada.

Meu processo criativo é sempre muito orgânico, muito pouco planejado e muito mais pro vivido/sentido. As referências que aparecem são parte de mim, do que me construiu até chegar naquele momento e se expressam por necessidades. E o melhor que às vezes os leitores pegam referências que eu mesma não tinha percebido nem nas releituras antes de mandar ao editor.

EK. Para mim, escrever é me libertar, então, o infinito é o limite. Querendo ou não, sempre aparecem referências nas nossas obras, seja de forma consciente ou inconsciente. E isso é maravilhoso. Pois absorvemos aquilo que um dia passou à frente dos nossos olhos.

Aliás, tudo na nossa vida nos traz experiências interessantes e saber dosar isso com criatividade e uma boa narrativa pode gerar uma bela história.

Enfim, esse foi o nosso bate-papo! Espero que tenha gostado! Mas, antes de fechar a conta, a Ana respondeu mais duas perguntas:

4) O que podemos esperar de Ana Cristina Rodrigues para esse ano?

Uma de contos em coletâneas bem diferentes, uma editora lançando muito material bom e a minha eterna tentativa de escrever um romance. Além de posts ácidos no facebook, reclamações randômicas sobre a vida no Twitter – e o temor constante que os meus gatos estejam planejando o golpe final em seus planos revolucionários.

5) E para terminar, para você escrever é:

Uma tentativa inócua, mas necessária para responder aquela velha questão que a gente sequer sabe qual é…

Ok, agora que já respondi bonito para fazer montagens no Facebook e viralizar, posso responder a verdade: escrever é colocar símbolos alfabéticos em sequência – o que vem daí depende de quem está escrevendo. Tem gente que cria arte, tem gente que faz ciência.

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