Qual é o ponto forte de um escritor? Contar anedotas histórias!
E dessa vez eu conversei com o José Roberto Vieira (@Jrxvieira), autor de O Baronato de Shoah, o primeiro romance steampunk do Brasil, publicado pela Editora Draco.
O Zero, que também é professor, gosta de dar aulas e aprender com os alunos, enquanto ensina.
Vamos lá:
1) Você é o escritor brasileiro que abriu caminho para a literatura na estética steampunk. Como foram esses primeiros passos?
José Roberto Vieira: Tenho que confessar, sempre que foi sem querer.
Quando eu comecei a escrever o Baronato de Shoah eu estava pensando em uma aventura de fantasia medieval com elementos um pouco mais tecnológicos, algo que tivesse espadas, arcos, duques e princesas, mas eu pudesse colocar carros, motos e barcos voadores.
Depois de umas cinquenta páginas de livro eu resolvi mostrar o que tinha para um amigo e ele me deu a dica “Cara, isso é steampunk”. Resolvi ir atrás e descobri essa cultura, que me fascinou desde o primeiro momento.
Com o passar do tempo o steampunk ficou um pouco mais popular no Brasil, houve o lançamento das coletâneas pela Tarja, Draco e Estronho, houve mais romances, mas vindos de fora (o que me faz estranhar o fato de eu ainda ser o único romancista assumidamente “steam” no meio literário).
Eduardo Kasse: É interessante como os nossos caminhos nem sempre vão para onde imaginamos. Você tinha uma ideia para uma história que era mais focada em medievalismo e com o tempo galgou os degraus do stempunk.
Então, o mais importante é sempre manter a identidade e escrever sobre o que acredita e gosta.
2) Quais são as suas principais referências?
JRV: Engraçado, né? Nenhuma das minhas referências literárias é assumidamente steampunk. Na verdade, eu não li as obras de referência steam, como Engenhos Mortais, a Máquina Diferencial ou a Noite do Morlok.
Minhas referências estão na série de jogos Final Fantasy, no anime Full Metal Alchemist e em imagens que eu vejo na internet ou que amigos me mandam.
Pode ser ruim? Acho que não. Pense bem, eu tive influências que outros autores steamers não tiveram e eu acabei sendo o primeiro autor nacional do gênero. Pensando por este ângulo, talvez, as pessoas que venham logo depois e se inspirem nos meus livros busquem novas formas de conhecimento, transformando o steampunk brasileiro em algo único e original.
Diferente da Fantasia Medieval, que por aqui repete muito as fórmulas importadas, o steampunk brasileiro tem tudo para nascer com identidade própria e fazer a diferença.
EK: Vivemos em uma era de diversidade. E a cultura e as referências podem ser obtidas de diversas maneiras.
E a internet possibilitou alcançarmos esses conteúdos que antes tinham o acesso mais complicado e até mesmo restrito.
Veja, quando eu escrevo os meus livros, sempre consulto bibliotecas virtuais, mapas e mesmo documentos antigos. Assim como ouço músicas, vejo vídeos, ou seja, fico imerso em diversas mídias.
E essa riqueza também me fascina.
3) Você agora está vivendo em outro país. Isso tem agregado experiências novas, novas ideias, novas inspirações para produzir seus escritos?
JRV: O Canadá é um país que lê muito e tem um desenvolvimento cultural interessante. Eles passaram toda sua existência recebendo cultura dos Estados Unidos e do Reino Unido, então eles não possuem “clássicos literários” genuinamente canadenses. Isso criou neles um sentimento de necessidade, de vontade de crescer e ter orgulho de sua cultura.
O que acontece por aqui é que os canadenses, no geral, são ávidos por novidade e por assimilar outras culturas e criar seus próprios detalhes. Foi o que eu notei na última Comic CoN de Toronto: havia exposições steampunk espalhadas por todo canto e eles faziam os objetos no fundo de casa, como a gente!
O mais legal disso é que eles reconhecem o steampunk à distância e o veem muito mais como uma estética do que como livros. É como se o steampunk pudesse ser aplicado a qualquer cultura, a qualquer arte; havia objetos, livros, mobílias, adornos steampunk dividindo espaço com os mesmos objetos em suas versões normais. Isso é fantástico por que dá espaço para as culturas se desenvolverem e o publico decidir o que gosta mais.
EK: Um país que não investe em cultura nunca vai ser uma nação. Portanto, acho interessantíssimas as diversas iniciativas culturais. Antes se usava muito o termo underground, entretanto, com a evolução do mundo digital, esse “submundo” cultural ganhou espaços e visibilidade.
É importante que surjam novas tendências, que cada um encontre sua identidade e faça arte original!
Aliás, escrevi um post em que falo: não sou fã do seu estilo, mas valorizo a qualidade da sua obra. Cada um precisa e deve ser livre para criar, para encantar e encantar-se.
Enfim, esse foi o nosso bate-papo! Espero que tenha gostado! Mas, antes de fechar a conta, o Zero respondeu mais duas perguntas:
O que podemos esperar de José Roberto Vieira para esse ano?
Regime.
Brincadeira. Após terminar o segundo livro da saga “O Baronato de Shoah” eu percebi que meu mundo precisava crescer, que eu podia brincar com as culturas de cada um dos reinos e sua história. Fui pesquisar as culturas chinesa e japonesa, os russos, os gregos e vikings, para me aprofundar em certos aspectos que achava interessantes.
Ao mesmo tempo descobri fatos da cultura haitiana, síria e mesopotâmica que me deixaram encantado e louco para escrever algo em meu mundo que tivesse ligação com esses povos.
O que eu percebo é que Nordara, o mundo de “O Baronato de Shoah” é um reflexo do nosso, com culturas diversas, por vezes rivais, mas que tem muito a oferecerem e a serem exploradas. Essas culturas dividem continentes e fronteiras, têm interesses diversos, buscam deuses e a imortalidade, mas também produzem riquezas e mortes.
É preciso explorar o próprio mundo, aventurar-se, conhecê-lo e aprender com ele. Às vezes me impressiono no quanto o nosso mundo é mágico e no quanto podemos aprender com ele para criarmos nossas obras.
Enquanto isso, também não consigo deixar de notar as revoltas e protestos, as diferenças sociais e as guerras. E esse é outro ponto que pretendo explorar.
Depois de “O Baronato de Shoah: a máquina do mundo”, acredito que evoluí muito como autor e preciso buscar novas formas de contar histórias. O que eu quero, agora, é tecer uma teia de personagens e eventos em Nordara para mostrar aos leitores o quanto o mundo é grande e o quanto ele pode ser explorado.
E para terminar, para você escrever é:
Criar, evoluir, encantar.
É isso, aí!
E convido-o(a) a compartilhar suas opiniões, experiências e ideias nos comentários logo abaixo.
Até mais!