Tiago Toy (@tiago_toy), autor de Terra Morta: Fuga publicado pela editora Draco e de diversos contos como: Heroína, Não Se Preocupe, Mamãe. Ficaremos Bem, Ignácia; Três Assobios e El Arte de Bibi é um dos nossos representantes brazucas de maior destaque sobre o tema “Zumbis & afins”.
Para quem não conhece essa figura, ele tem telefonofobia – deuses, como ele sobrevive hoje em dia? –, insônia, só aparece em público de óculos de sol por causa da timidez e não gosta de pessoas efusivas.
Mas tem o seu coaração amolecido com um belo sanduíche de queijo quente.
Malha mesmo odiando academia por acreditar que a aparência ajuda na divulgação de seu trabalho, que, aliás, pode ser visto no Facebook e também na sua versão “ilustrador nas horas vagas” no DeviantArt.
Vamos lá:
1) Em um mercado literário saturado de enlatados estrangeiros, no que você se diferencia como autor? Como fugir do clichê: mais um livro de zumbis?
Tiago Toy: Clichês não são ruins como pintam. Se você sabe usá-los, eles podem salvar sua história.
Escrever é como cozinhar e clichês são um tipo de tempero. Saber dosá-los é o segredo. Não posso fugir do rótulo “mais um livro de zumbis” porque fui lançado justo na época em que os benditos estavam em alta – e continuam. Minha desculpa é poder dizer que comecei a escrever Terra Morta bem antes disso, em agosto de 2008, e tenho os registros do blog para provar.
O problema não é ser mais um livro de zumbis: é não trazer algo interessante. Digo sem medo de levar ovadas que isso Terra Morta tem de monte. Não me interesso por leituras densas demais. Posso ser tachado como raso por isso, mas que seja. Prefiro ler o que me dá prazer. Um grande clássico da literatura ou Dan Brown? Dan, por favor. A coleção, se possível. Gosto de leituras fluídas, sem congestionamento de informações.
Meu público lê em Terra Morta o tipo de leitura que eu gostaria de ler. É dinâmico, sem enrolação para encher linguiça, sem pretensão de ser a revolução do gênero zumbi. Não tenho nada contra enlatados estrangeiros. Se me dão prazer, que venham. Graças a eles o gosto pela leitura cresceu, e abriu espaço para que autores de ficção nacionais ganhassem um espaço, ainda que pequeno. Não adianta ficar reclamando que poucos têm espaço. Lute por esse espaço! Se eu ficar me martirizando, alguém mais esperto (e nem por isso mais talentoso) me faz comer poeira.
Eduardo Kasse: Concordo que cada autor deve encontrar o seu estilo, as suas preferências e a sua identidade. A originalidade, no sentido de “nunca ninguém fez isso antes” nem sempre é possível, mas dar a sua visão sobre o tema é essencial. Aliás, é o que separa a profissão do hobby.
Respeito acima de tudo o direito de escolha. Cada leitor deve consumir o que lhe interessa, o que lhe agrada e, principalmente, aquilo que lhe agrega valor. Eu gosto dos clássicos e também gosto de me divertir. Enfim, a decisão é minha sobre o que quero ler! E isso é sagrado.
2) Quando eu li Terra Morta, a fuga, pensei que “essa história pode dar um filme”. Você vê alguma possibilidade nisso?
TT: Ver uma possibilidade é diferente de querer, certo?
Minha bagagem se apoia muito em cinema. Aprendi a (ou tomei gosto por) contar histórias graças a miríade de filmes que assisti. Sou um verdadeiro devorador de filmes e séries. Se preciso de inspiração ou apenas relaxar, pode ter certeza que entre um livro e um episódio de alguma de minhas séries favoritas vou escolher a segunda opção.
Eu vejo sim a possibilidade de Terra Morta “dar um puta filme”, mas não de alguém aqui se interessar em fazer um filme sobre meu livro. É mais fácil eu mesmo pegar uma galera envolvida com cinema e criar algo independente, uma série virtual, quem sabe. Fica entre nós: esse projeto já estava em andamento, pelo menos as discussões com os interessados (diretor, atores, cineasta, etc.), mas não é algo que se faça da noite para o dia, não se buscarmos qualidade. Há possibilidade de Terra Morta ganhar mídia em vídeo algum dia, sim. Ponto. Nada mais a declarar.
EK: Também gosto de me envolver com diversas mídias enquanto estou criando. Música, teatro, cinema, exposições sempre me ajudam a ter ideias. Mesmo aquilo que nada têm a ver com o tema do livro pode fazer a mente trabalhar.
E isso é muito interessante, pois, hoje, temos acesso a incontáveis conteúdos via internet. Então, só não “se imerge” nessa diversidade quem não quer.
TT: Terra Morta: Fuga tem 40% da história passada em Jaboticabal – sem contar os flashbacks que continuarão no segundo livro. Todos os lugares por onde os personagens passaram em sua constante fuga são reais. Houve sim pesquisa in loco, mas não comigo indo ao local antes de escrever sobre ele. Eu morava em Jaboticabal quando escrevi o livro. É a cidade onde nasci e vivi por mais de 20 anos. Não foi preciso ir até os locais novamente. Eu já os conhecia como a palma de minha mão.
Para o segundo livro a coisa complicou. Moro em São Paulo há quatro anos e não sou do tipo que sai muito. Na verdade, dificilmente saio mesmo para ir comprar pão, apenas em último caso. Mas o segundo livro se passa em São Paulo, e para não correr o risco de me basear erroneamente em cenários estrangeiros (culpa da minha bendita bagagem), tive que fazer algumas visitas a locais que farão parte da sequencia, como dois hotéis, a Marginal Tietê e uma galeria subterrânea da Telefônica. Embora esteja escrevendo sobre uma pandemia zumbi, gosto de trazer um pouco de realidade aos meus escritos. Misturar ficção e vida real proporciona uma experiência mais excitante, acredito.
EK: Exatamente! Os cenários e ambientações são extremamente importantes para enriquecer a história. Ajudam os leitores a viajarem pelas palavras e se situarem em cada trecho.
Enfim, esse foi o nosso bate-papo! Espero que tenha gostado! Mas, antes de fechar a conta, o Toy respondeu mais duas perguntas:
4) O que podemos esperar de Tiago Toy para esse ano?
Vou posar para a G.
Mentira.
Cara, eu sou um ser inconstante. Assim que atingi a maioridade ninguém mais me segurou. Fui para Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, mudei mais de quatro vezes aqui na capital, e já estou sentindo uma coceira no *** para ir embora, urgente.
Há quatro anos eu gritava aos quatro cantos que precisava morar em São Paulo porque adorava aquela agitação, e isso e aquilo. Hoje não suporto sair na janela. Há quatro anos eu odiava praia. Hoje sonho em morar perto de uma. Já me aventurei em quadrinhos, desenhos, modelagem, quase fui bartender, ator, já participei de dois realities musicais, e agora estou escrevendo, mas também me aventurando em Game Design. Podem esperar tudo de Tiago Toy.
Em relação a projetos, estou escrevendo contos exclusivos para Kindle e vendendo-os na Amazon, no qual alguns alcançaram o 1º lugar na lista de mais vendidos, thank you very much.
Estou desenvolvendo um jogo meio HQ meio app com alguns caras, mas nada para ser divulgado ainda.
Estou revisando (na verdade, tapando buracos e refazendo muitas partes) a sequencia de Terra Morta, o que está levando mais tempo do que pensei que levaria. Além disso, tenho três livros já engatilhados para começar assim que terminar Terra Morta. Ou mesmo durante, quem sabe. Logo lanço com a Draco o Terra Morta: Relatos de Sobreviventes (título provisório), um apanhado de contos escritos por leitores e autores baseados no universo de Terra Morta. Lançaremos também uma HQ, mas ainda preciso definir se será uma história paralela ou original ao livro, e roteirizá-la. Logo surgirão outras ideias, e mais projetos virão. Ou eu simplesmente sairei pelo mundo como um andarilho.
5) E para terminar, para você escrever é:
Imersivo.
Para escrever preciso de um ritual que nunca é o mesmo. Se estou sozinho preciso estar de barriga cheia, mas não muita, senão me dá preguiça. Também não posso estar de bexiga cheia. Ah, e de banho tomado. No banho tenho as melhores ideias (se me lembro bem, foi no banho que descobri como seria o final da saga Terra Morta). O e-mail e o Facebook precisam estar fechados. Algumas vezes preciso de música, noutras preciso de silêncio sepulcral. Quando estou com my love em casa, tenho que colocar meu fone e ouvir música, senão fico olhando pra TV sem realmente ver. Preciso estar entregue à escrita, e assim escrever por horas.