Eduardo Kasse, muito prazer!
Escritor e roteirista
|

Uma conversa com Tibor Moricz

Mesmo nos diálogos mais sintéticos podemos encontrar ideias de valor.

Publicado em:

Por:

tibor_moriczTibor Moricz é paulistano, autor do romance Síndrome de Cérbero (Editora Jr, 2007), do fix-up Fome (Tarja Editorial, 2009) e do romance O Peregrino (Editora Draco, 2011), organizador dos volumes I e II da coleção Imaginários e da coletânea Brinquedos Mortais, além de ter vários contos publicados.

Comanda o blogue http://esooutroblogue.wordpress.com/ onde fala sobre o mercado editorial e realiza resenhas literárias.

1) Como você iniciou a sua carreira de escritor? Foi algo despretensioso ou já tinha ideia que se tornaria um profissional?

Tibor Moricz. Tudo começou com a leitura de um livro de Stephen King em 2004, Saco de Ossos. Detestei tanto que disse para mim mesmo que escreveria melhor. Foi assim. Estou tentando até hoje. Escrevo, porém, desde a adolescência. Cheguei a ganhar algumas menções honrosas no passado, mas foi mesmo em 2004 que decidi escrever com mais seriedade, embora ainda não me passasse pela cabeça a ideia de me tornar um profissional. Comecei e terminei várias bobagens, coisas que hoje me envergonhariam se chegassem às mãos de meus leitores. Mas foram importantes para me fazer lapidar a mim mesmo e a retomar o ritmo literário que havia interrompido fazia anos.

Eduardo Kasse. Interessante motivação. Uns começam escrever para não enlouquecer, outros para tentar mudar o mundo e outros para superar o Stephen King! E a beleza da literatura está nisso, na liberdade de produzir e criar segundo as convicções individuais.

2) Você é autor e também crítico literário. Essas duas personas entram em conflito quando você está produzindo seus escritos?

TM. Na verdade não me considero um crítico literário. Considero-me um leitor exigente, chato, cri-cri. Para ser um crítico eu precisaria de uma bagagem e técnica literárias que não possuo. Sou bastante exigente comigo mesmo, leio e releio meus escritos várias vezes, faço isso em silêncio e em voz alta, tento pegar as mínimas falhas, forço-me a melhorar cada vez mais. Esse lado cri-cri me traz benefícios, jamais conflitos.

EK. Entendo essa busca pela qualidade e superação. De sempre ir um passo além. E essa seriedade é muito importante, é um diferencial para a produção de textos lapidados e bem trabalhados. Histórias que são boas de serem lidas dependem desse padrão.

3) Conte-nos sobre como é a sua “maneira” de criar? Escreve tudo de uma vez? Vai-volta-vai-de-novo?

TM. Muita gente anda com bloquinhos e canetas. Outros com gravadores portáteis. Muitos dizem que se a ideia não for anotada, ela foge.

Mentira.

Boas ideias nunca fogem. Elas batucam e batucam na cabeça até que você as coloca no papel. Se fugirem é porque não eram boas.

Não forço as ideias. Deixo-as virem à vontade. Pré-seleciono as que me parecem mais viáveis, deixo as outras se esvaírem. Às vezes me sento diante do teclado e começo qualquer coisa meio sem eira nem beira.

Sai a história ou deleto tudo.

Quando “aquela” ideia vem, impossível deixá-la de lado. Sento e escrevo numa ânsia danada. Termino. Releio. Começa a loucura de corta isso, corta aquilo. Arredondar tudo. Depois de um período de afã criativo, me deixo prostrar e posso permanecer meses sem escrever nada. Nem lista de compras. Tenho, por outro lado, métodos de trabalho. Ao escrever um romance esforço-me por escrever ao menos um capítulo por dia (tenha o tamanho de páginas que tiver).

EK. Não sou de andar com bloquinhos, mas confesso que sempre tento anotar os insights que tenho. Seja um termo, uma ideia, ou mesmo um conceito que quero desenvolver. Não faço isso com tanta frequência, aliás, na literatura quase nunca. Isso acontece mais com a produção de artigos ou mesmo conteúdos para os clientes. E esses estalos vêm quase sempre quando acabei de deitar para dormir. Uns eu alimento, outros eu deixo pra lá – por preguiça principalmente – torcendo para que retornem na manhã seguinte. Uns vêm, outros não. E sempre me xingo quando deixo escapar “aquela ideia que mudaria a minha vida e das gerações futuras” ahahah.

Enfim, esse foi o nosso bate-papo! Espero que tenha gostado! Mas, antes de fechar a conta, o Tibor respondeu a mais duas perguntas:

o_homem_fragmentado4) O que podemos esperar de Tibor Moricz para esse ano?

Haverá o lançamento de O homem fragmentado no Fantasticon. Não levei mais que três meses para escrevê-lo. Apesar da rapidez, tenho-o como uma de minhas principais obras. Falo de mundos e realidades paralelas, de vínculos, de família, de verdades e mentiras, de amores. Falo da eterna busca do ser humano por respostas e da tragédia por descobri-las inúteis. Dediquei ao livro o máximo de mim, transpirei sobre as folhas, chorei sobre elas. Acredito que os leitores vão gostar muito.

5) E para terminar, para você escrever é:

Dar um sentido à vida. Um propósito. Escrever é ser um eu diferente em vários lugares diferentes. É viver intensamente, é acreditar.

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp